A Falácia do Terapeuta Referência: Por Que Essa Ideia Prejudica a Prática Terapêutica?
- Anna Rossetto
- 16 de mar.
- 4 min de leitura

No universo terapêutico, especialmente na contoterapia, há uma crença que raramente é questionada: a chamada falácia do terapeuta referência. Essa ideia sugere que alguns profissionais são referência absoluta enquanto outros permanecem na sombra, considerados “comuns” ou “menos relevantes”.
Mas o que realmente sustenta essa crença?
Será que ser uma referência está ligado ao número de pessoas atendidas? Ou será que essa ideia foi fabricada por um mercado que valoriza a visibilidade acima da profundidade?
Se analisarmos mais de perto, perceberemos que a falácia do terapeuta referência cria uma hierarquia artificial dentro da comunidade terapêutica, promovendo insegurança e comparação desnecessária.
Vamos explorar os mecanismos que alimentam essa crença e como podemos superá-la.
A Armadilha da Comparação e a Ilusão da Escala
A falácia do terapeuta referência frequentemente se apoia na lógica de que:
✅ Terapeutas que conduzem grupos são líderes, impactam mais pessoas e, portanto, são mais reconhecidos.
❌ Terapeutas que fazem atendimentos individuais são menos visíveis e, por isso, menos relevantes.
Mas será que essa equação é verdadeira?
Marshall B. Rosenberg, em Comunicação Não Violenta (2006, p. 41), alerta que a comparação constante pode nos afastar da autenticidade e da conexão genuína com o outro.
Quando medimos nosso valor profissional com base na visibilidade ou na escala de atendimento, caímos em uma armadilha: passamos a buscar validação externa, em vez de aprofundar nossa prática de forma autêntica.
E, no meio desse jogo, perdemos a pergunta mais importante: qual é o impacto real do nosso trabalho?
A Pressão do Mercado e a Narrativa de Escassez
No meio contoterapêutico atual, a falácia do terapeuta referência é reforçada pelo marketing de crescimento acelerado.
Muitos profissionais são levados a acreditar que, para prosperar, precisam escalar seus atendimentos a qualquer custo.
Se você já ouviu frases como:
🚩 “Se você não monetiza em escala, está ficando para trás.”
🚩 “Se você não conduz grupos, nunca será referência.”
🚩 “Se você atende individualmente, está perdendo dinheiro e desperdiçando tempo.”
Saiba que essas mensagens não surgem do nada. Elas fazem parte de um discurso que vende a ideia de que a única forma de um terapeuta prosperar é transformando sua prática em um produto de grande alcance.
Mas essa visão realmente considera a diversidade de profissionais e de pacientes? Ou apenas impõe uma lógica de escassez, que gera ansiedade e faz com que muitos terapeutas sintam que precisam mudar sua forma de trabalho para se encaixar em um modelo imposto?
A Falácia do Terapeuta Referência e a Ilusão da Autoridade Baseada em Popularidade
Outro fator que sustenta a falácia do terapeuta referência é a crença de que ser visto por mais pessoas equivale a ser mais competente.
Hoje, o número de seguidores, de alunos ou de pacientes virou um indicativo de sucesso, como se a autoridade de um terapeuta fosse medida pelo alcance de sua voz, e não pela qualidade do seu trabalho.
Mas a prática terapêutica não se baseia em números. Ela se baseia em conexão, presença e profundidade.
Atender um grande grupo de pessoas não significa, por si só, gerar um impacto mais significativo. Da mesma forma, um trabalho individual não é menos relevante apenas por não ser amplamente divulgado.
Qualidade, Profundidade e a Real Medida de Impacto
A noção de que “mais pacientes atendidos significa maior impacto” desconsidera um aspecto fundamental: o que realmente transforma uma vida é a qualidade da experiência terapêutica, e não a quantidade de pessoas alcançadas.
Algumas pessoas encontram nos grupos um espaço seguro de crescimento e partilha. Outras, no entanto, precisam de um atendimento individual para se aprofundar sem exposição.
O impacto terapêutico não está na quantidade, mas na capacidade de atender às necessidades reais de cada pessoa.
A falácia do terapeuta referência perde força quando reconhecemos que diferentes formatos de atendimento têm valores e impactos distintos, e nenhum é superior ao outro.
O Verdadeiro Significado de Ser uma Referência
Para entender melhor o conceito de referência, vejamos sua definição no Dicionário Priberam:
“Conjunto de qualidades ou características tomado como modelo.”
Ser referência, portanto, não está ligado ao formato de trabalho, mas sim à coerência, à competência e à autenticidade do profissional.
🔹 Um terapeuta que conduz grupos não é referência apenas por isso.
🔹 Um terapeuta que atende individualmente não é menos relevante por atuar de forma reservada.
🔹 Um profissional torna-se referência quando sua prática inspira confiança, cuidado e transformação.
O que faz um terapeuta ser referência não é a busca por status ou escala. É sua capacidade de criar espaços de cuidado autênticos, onde a presença, a escuta e o compromisso com o outro são inegociáveis.
Conclusão: Redefinindo o Conceito de Sucesso na Terapia
A falácia do terapeuta referência precisa ser questionada.
Quando desconstruímos hierarquias artificiais, abrimos espaço para um ambiente mais colaborativo, onde diferentes formas de atendimento são valorizadas e reconhecidas.
Na Contoterapia®, não acreditamos em fórmulas de sucesso baseadas em comparação ou pressão de mercado. Nosso foco está no desenvolvimento profundo e ético da prática terapêutica com os contos.
Se você sente o chamado para trabalhar com histórias de maneira genuína e cuidadosa, independentemente do formato que escolher, a Contoterapia® pode ser o seu caminho.
E você, já se deparou com essa falácia no seu percurso profissional? Como você enxerga o conceito de referência na terapia? Compartilhe sua experiência nos comentários!
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