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Grupo de Estudo ou Grupo Terapêutico?


Nem todo grupo com contos é terapêutico — e reconhecer isso é essencial para que a condução seja feita com responsabilidade e presença. Como nomear corretamente o seu espaço com contos pode fazer toda a diferença.


grupo de mulheres estudando de um lado e grupo de mulheres conversando do outro

Por que essa pergunta importa?


Se você já participou ou facilitou um círculo de mulheres com contos, especialmente inspirado por livros como Mulheres que Correm com os Lobos, provavelmente já viveu esse cenário:

Uma história é lida, surgem emoções fortes, alguém se emociona profundamente — e de repente, a roda parece hesitar: como acolher o que emergiu? O grupo está preparado para isso?


É nesse ponto que surge uma pergunta fundamental:

O grupo que estou oferecendo é um grupo de estudo ou um grupo terapêutico?


Essa pergunta, além de importante, é estratégica — tanto para proteger quem conduz quanto para cuidar de quem participa.

Grupo de Estudo: um espaço para aprender, refletir e ampliar repertório simbólico


O grupo de estudo é um espaço formativo, voltado para quem deseja compreender melhor os contos, os símbolos e as estruturas que compõem o universo das narrativas. É ideal para pessoas que querem ampliar seu repertório, aprofundar reflexões, estudar autores como Clarissa Pinkola Estés, Joseph Campbell, Sharon Blackie ou Jung — e pensar em como aplicar esse conhecimento em suas práticas profissionais ou jornadas pessoais.


Atualmente, muitos desses grupos se inspiram em livros como Mulheres que Correm com os Lobos. Nesses encontros, é comum que alguém leia um conto da obra e, em seguida, compartilhe a análise feita pela própria Clarissa, que interpreta os elementos narrativos com base em sua experiência como psicanalista junguiana, além de referências mitológicas e culturais. Ela costuma oferecer uma leitura afirmativa dos símbolos e personagens, como:


  • A Mulher Esqueleto representa o ciclo vida-morte-vida

  • O pescador é o ego masculino em amadurecimento

  • O mar simboliza o inconsciente

  • O fio do anzol é o fio do destino


Essas interpretações são potentes, poéticas e têm forte impacto simbólico. Mas é importante lembrar que elas representam uma leitura possível, estruturada a partir de um referencial específico — e não um significado único ou definitivo.


Além desse modelo, há grupos que se propõem a estudar contos de outras fontes ou tradições, com outras abordagens simbólicas. Alguns desses grupos também abrem espaço para trocas pessoais e reflexões livres, o que pode enriquecer a experiência. Ainda assim, se o grupo não está preparado para sustentar processos emocionais mais profundos, não se configura como um espaço terapêutico.


Por quê?


Porque a estrutura do grupo de estudo normalmente não prevê:


  • tempo para escuta individual profunda,

  • contenção simbólica para acolher o que emerge,

  • nem condução terapêutica em caso de vivências emocionais intensas.


Se alguém se emociona, o grupo pode não saber como lidar — e seguir em frente com a leitura ou análise, deixando a experiência suspensa, sem elaboração simbólica. Em alguns casos, por falta de condução clara, uma participante pode tentar interpretar ou comentar a vivência da outra, desviando o foco do estudo e expondo sem querer aquilo que deveria ser escutado com mais delicadeza.


Situações como essa não indicam erro ou inadequação — mas sim um desalinhamento entre o que está sendo vivido e o tipo de espaço que foi estruturado. E é exatamente por isso que nomear com clareza é um ato de cuidado e de responsabilidade.


Ao explicitar desde o início que se trata de um grupo de estudo, a facilitadora protege o campo, alinha expectativas e sustenta um espaço rico de aprendizado simbólico — sem abrir portas para processos que o grupo não se propôs a acompanhar.


Grupo Terapêutico: um espaço de cuidado simbólico, escuta profunda e transformação subjetiva


Diferente do grupo de estudo, o grupo terapêutico na Contoterapia® tem como foco central o cuidado com a vivência subjetiva que emerge no encontro com a história.


Aqui, a história não é lida para ser interpretada. Ela é narrada com presença viva, com ritmo, corpo e intenção simbólica. A contoterapeuta não está ali para explicar o conto, mas para criar um campo onde o símbolo possa atuar livremente— sem pressa, sem conclusão, sem necessidade de compreensão imediata.


Nesse espaço, a escuta é afetiva, silenciosa e receptiva. Cada participante é convidada a escutar não apenas com os ouvidos, mas com o corpo e com a alma. E mais do que isso: é escutada também no que sente, no que cala, no que compartilha e no que apenas pulsa dentro de si.


O que diferencia esse espaço?


No grupo terapêutico da Contoterapia®, o conto não é um objeto de estudo, mas uma ponte simbólica — entre o inconsciente e a consciência, entre o silêncio interno e a palavra que encontra forma.


Depois da narração, a contoterapeuta pode simplesmente oferecer silêncio. Um espaço vazio, mas fértil. E quando convida à partilha, não pergunta: “O que isso significa?” Mas sim:


“O que essa história te tocou?”
“Que imagem ficou em você?”
“Como você se sentiu ao ouvir?”

A forma de perguntar, no entanto, não é padronizada — e deve respeitar a capacitação de quem conduz. Uma contoterapeuta com formação em psicoterapia pode se sentir segura para acolher processos mais complexos ou perguntas que toquem em camadas profundas.


Já quem vem de outras formações — como terapeutas integrativas, educadoras, artistas, facilitadoras de grupos ou profissionais de áreas não clínicas — pode e deve se pautar por perguntas que estejam alinhadas com aquilo que consegue sustentar com segurança. Porque em um grupo terapêutico, cada pergunta é uma porta. E a ética está justamente em saber quais portas podemos abrir — e quais não estamos prontas para atravessar junto com o outro.

Mas afinal: como saber a diferença na prática?


Para te ajudar a identificar (ou estruturar melhor) o seu grupo, veja abaixo uma comparação clara entre os dois formatos:


Tabela comparativa entre grupo de estudo e grupo terapeutico de contoterapia

E afinal… qual é o melhor tipo de grupo?


A resposta é: depende.


Depende do que você deseja oferecer — e do que o grupo espera receber. Depende da sua formação, da sua intenção, da sua disponibilidade interna para sustentar o que pode emergir de uma história contada com alma.


Ambos os formatos são legítimos e valiosos. O grupo de estudo expande, forma, conecta saberes. O grupo terapêutico acolhe, transforma, reintegra.


O problema não está em escolher um ou outro — mas em não saber qual está oferecendo. Porque quando um grupo de estudo é chamado de terapêutico, pode gerar frustrações, desconfortos, ou até tocar em algo que não encontra quem escute. E quando um grupo terapêutico é conduzido sem preparo simbólico ou ético, pode abrir dores que não sabem onde pousar.

Conclusão: A clareza que cuida


Quando conduzimos um grupo com contos, não estamos apenas escolhendo histórias — estamos abrindo espaço para encontros. Com o outro, com a palavra, com o que nos habita em silêncio.


E nesses encontros, a forma como nomeamos o espaço importa. Não porque precisamos seguir regras, mas porque quem chega tem o direito de saber que tipo de experiência está sendo convidado a viver.


Um grupo de estudo pode oferecer descobertas incríveis. Ajuda a nomear imagens internas, a ampliar o olhar, a reconhecer estruturas simbólicas que sustentam a vida. Um grupo terapêutico, por sua vez, convida a um mergulho mais sensível — onde a história toca, transforma e reintegra, no tempo de cada um.


Não se trata de escolher qual é melhor. Se trata de reconhecer qual é o mais adequado para o momento, para o contexto, para o que você deseja oferecer — e para o que pode sustentar com segurança e presença. No fundo, quanto mais grupo de estudos uma contoterapeuta participar, melhor e mais profundo serão seus grupos terapêuticos.


Talvez essa pergunta seja o ponto de partida mais honesto para quem trabalha com narrativas:


“Que tipo de espaço estou criando?”
“E como posso nomeá-lo com clareza, sem prometer o que não posso oferecer?”

Na Contoterapia®, a escuta começa antes da história. Ela começa no cuidado com o convite. Porque, no fundo, nomear com consciência é o primeiro passo para escutar com verdade.


Abraços,

Anna Rossetto

 
 
 

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há 7 dias
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